Informática

NEXGEN CLOUD

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Agora no inicio de dezembro/2014 participei da Conferencia NexGen Cloud (www.NexGenCloudCon.com). Realizada em San Diego, EUA, seu principal objetivo foi discutir como o movimento das empresas para a nuvem vai impactar os canais do setor de TI. Especialistas afirmam que até 2017 todo provedor de soluções, sejam eles ISV, SI, MSP e outros, terão que se confrontar com uma nova realidade, passando a incorporar as funções de um Cloud Service Provider (CSP) ao seu negócio.

Apesar do grande otimismo em torno de novas startups criando soluções inovadoras na nuvem, de certa forma replicando todo aquele ambiente em torno da internet nos anos 90, muitos estão se dando conta de que as empresas em geral deverão comprar menos computadores e periféricos. Até porque as pessoas estão preferindo trazer seus próprios dispositivos para o trabalho (BYOD), muitas vezes deixando de ir até a empresa já que cada vez mais trabalham de casa ou estão na estrada visitando clientes. Finalmente, pesquisas mostram que mais de 70% das contratações de serviços na nuvem são realizadas por pessoas fora do setor de TI. Ou seja, os integradores terão menos bens para oferecer, tendo que conversar não apenas com os gerentes de TI mas com uma gama maior de pessoas em cada um de seus clientes.

É o tal fenômeno da desintermediação batendo na porta do próprio setor de TI ! As empresas de software cada vez mais buscam vender suas soluções diretamente na nuvem, oferecendo opções para que o cliente se sirva sozinho. Cabe lembrar que na nuvem o software já vem instalado e aumenta a cada dia a quantidade de treinamento disponibilizado gratuitamente, muitos oferecidos em vídeo na própria internet. Para completar este cenário, estamos testemunhando uma verdadeira batalha em termos de preço dos serviços oferecidos na nuvem, com muitas soluções sendo disponibilizadas gratuitamente. Assim, agregar serviços às soluções sendo oferecidas em termos de “custo+margem” será cada vez mais complicado.

Para aqueles que acham que o cenário acima descrito é uma realidade restrita, que vai demorar muito até se disseminar de forma mais ampla, repito o “prazo” com o qual os especialistas estão trabalhando: 2017. Creio que para reforçar esta visão os organizadores abriram a conferencia com uma palestra do Ray Kurzweil (www.kurzweilai.net), diretor de Engenharia da Google, inventor e autor de livros de muito sucesso.

O título desta palestra foi “Aceleração da Tecnologia no século 21: O impacto nos negócios, na economia e na sociedade”. O ser humano esta habituado a “funcionar” e entender as coisas de forma linear enquanto que os avanços tecnológicos estão acontecendo de modo exponencial. Isto não deveria ser surpresa para o pessoal de TI que conhece de longa data a tal Lei de Moore (a quantidade de transistores num chip irá dobrar a cada 18 meses sem alterar seu preço). Kurzweil vem chamando a atenção para o fato de que este comportamento exponencial tem se verificado em outras áreas do conhecimento, até porque cada vez mais áreas estão sendo digitalizadas. Assim, tivemos avanços exponenciais na capacidade de armazenamento das informações, na velocidade de transmissão de dados, etc.

Esta constatação ganha mais força quando lembramos que os primeiros PC tinham 640 Kb de memória e discos rígidos de 5 Mb, com processadores limitados se comparados aos que atualmente são usados em celulares. Uma maneira mais interessante de dizer a mesma coisa é afirmar que um smartphone hoje tem a capacidade de processamento e armazenamento de informação superior a um mainframe que custava US$ 200 milhões 15 anos atrás.

Kurzweil sustenta ainda que estes avanços continuarão ocorrendo de forma exponencial, com impactos profundos sobre a sociedade em geral. “To Cloud or not to Cloud”. Esta não é mais a questão ! Cada vez mais informações e serviços serão disponibilizadas através da nuvem. Ele pouco falou das ofertas da Google para a nuvem, que junto com a Amazon e Microsoft, são considerados os principais fornecedores de infraestrutura e plataforma na nuvem (IaaS e PaaS).

Daí para a frente foi uma sucessão de palestras de fornecedores/patrocinadores com foco no perfil da audiência. Algumas destas palestras foram gravadas e os vídeos estão disponíveis no site do evento. Dentre elas destaco as apresentações do Robert LeBlanc, Senior Vice Presidente de Software and Cloud Solutions Group da IBM; da Ellen Berlan, diretora de Cloud da Cisco Americas; e Alex Freedland, Co-fundador & Chairman da Mirantis (uma das principais empresas trabalhando com OpenStack).

De um modo geral a principal mensagem foi a de que os grandes fornecedores, incluindo distribuidores, continuarão gerando oportunidades para seus parceiros (quem iria negar isto ?). Mas a “chegada” da nuvem junto com o crescimento da mobilidade esta impactando tanto as grandes como as pequenas empresas. Assim, os parceiros terão também que se adaptar a esta nova realidade.

Os ciclos para oferecer novas soluções para o mercado estão sendo radicalmente reduzidos. Apesar de parecer “propaganda”, o foco deve ser o de oferecer soluções para seus clientes (em oposição a vender homem/hora). Por outro lado, grandes empresas que não estão na liderança deste mercado estão batendo na tecla de que os clientes em geral não devem colocar todas as suas fichas num único fornecedor. O modelo que deve ser tornar mais comum será um modelo de nuvem hibrida em que diferentes processos ou serviços poderão transitar entre uma nuvem privada e diversas nuvens publicas. É preciso criar um novo modelo de negócios para esta realidade !

As empresas continuarão comprando equipamentos para instalar localmente, sendo cada vez mais crítico ofertar conexões de banda cada vez mais larga para acessar o mundo externo. A rede corporativa vai continuar exigindo credenciais para permitir conexões seguras e confiáveis, mas terá partes significativas expostas ao mundo, e por isto mesmo sendo agora chamada de nuvem privada.

Grandes corporações continuarão investindo em infraestrutura própria para executar processos críticos, mas a imensa maioria vai usar cada vez mais a nuvem pública. Estudos do Gartner indicam quem em 2016 pelo menos metade das 1000 maiores empresas globais estará armazenando informações corporativas em nuvens públicas.

Por outro lado, as startups vão cada vez mais usar a nuvem pública para fazer seu negócio crescer. Na apresentação do Vice Presidente de Software and Cloud Solutions Group da IBM ele relatou conversa com um amigo empreendedor que já esta na sua 5ª startup. Perguntou a ele qual a diferença entre as startups de hoje e aquelas que começaram 10 anos atrás. Segundo este amigo, há 10 anos uma startup que conseguia 5 milhões gastava 4M em infra. Hoje a infra sai praticamente de graça e a maior parte dos 5 milhões vão para a equipe técnica que vai construir e aperfeiçoar a solução e também para vendedores que em pouco tempo estarão na rua vendendo as versões iniciais da solução.

Todos reconhecem, entretanto, que a segurança ainda é uma questão importante e que o mercado ainda carece de soluções que possam aumentar a confiabilidade das conexões e a segurança das informações armazenadas na nuvem. Muito dinheiro esta sendo investido em novas abordagens e soluções, mas os níveis atuais de segurança são suficientes para sustentar o enorme movimento em direção à nuvem que estão todos testemunhando (novamente, quem vai dizer que sua solução na nuvem não é segura?).

Outro ponto que me chamou a atenção foi a defesa das soluções em software livre, mas com foco no compartilhamento de padrões que facilitem a interoperabilidade. Se a 10 anos as empresas buscavam soluções como MySQL e Thunderbir como alternativas mais baratas (ou gratuitas) para soluções proprietárias, agora surgem a cada dia novas soluções inovadoras em software livre que grandes empresas começam a utilizar como base para vender soluções customizadas.

Outro keynote da conferência foi o Alex Freedland, co-fundador e Chairman da Mirantis, uma das principais empresas colaborando com a evolução do OpenStack. Para quem não sabe, o OpenStack começou a ser desenvolvido em 2010 através de uma parceria entre a NASA e a RackSpace, mas só começou a ganhar notoriedade depois que empresas como a Red Hat e HP foram se juntando ao consórcio que atualmente congrega mais de 150 empresas e é responsável pela manutenção e evolução desta plataforma de software.

Freedland é membro do Conselho do Consórcio do OpenStack e a história da Mirantis, uma das empresas que ele fundou, é bem interessante. Ela começou como um Provedor de Soluções alavancando serviços de engenheiros de software russos, onde Freedland nasceu. Se concentraram em criar uma distribuição própria do OpenStack para a qual oferecem serviços de customização e suporte para operações em regime de missão crítica. Atualmente respondem por 14% de todas as instalações de OpenStack no mundo !

Ainda segundo Freedland, o OpenStack é uma plataforma de software que abstrai a camada de hardware, oferecendo um conjunto de APIs para trabalhar com recursos computacionais, de armazenamento e rede. Estas APIs são padronizadas, estáveis, ubíquas e podem ser acessadas por qualquer pessoa ou empresa interessada. Isto revoluciona o modelo de negócios atual, já que provedores de solução não precisariam mais escolher se aliar a uma solução proprietária, estando livres para integrar componentes de software em qualquer infraestrutura computacional. Daí o crescimento exponencial na adoção do OpenStack como plataforma de nuvem e um número também crescente de grandes empresas como IBM, Cisco e outras, que estão se juntando a esta iniciativa para garantir interoperabilidade de suas plataformas.

Outro comentário interessantes de Freedland são sobre a criação de valor e inovação em todas as partes do mundo, citando como exemplo análises sobre as contribuições que são recebidas da comunidade de desenvolvedores do OpenStack. Segundo estatísticas obtidas no repositório do código fonte dos diferentes projetos que compõem a plataforma, a cidade que abriga o maior número de contribuições para o repositório é Beijing na China.

Também me chamou a atenção a perspectiva de Freedland sobre as oportunidades que existem atualmente em torno de criar valor em cima de grandes volumes de dados. Ele usou o termo “Data realstate” para dizer que muito valor poderá ser gerado com base na expertise da análise de grandes volumes de dados oriundos de diferentes setores da economia. Análise esta feita com base, é claro, em soluções em software livre baseadas em OpenStack.

Uma das últimas apresentações que assisti foi da Tiffany Bova, do Gartner, sobre as principais tendências em Computação na Nuvem que vão afetar o futuro dos canais de TI. Funcionou como um grande resumo de tudo que vinha sendo dito em outros painéis e apresentações.

Segundo ela, as empresas vão cada vez mais funcionar de modo bi-modal, significando que haverão duas velocidades operacionais para a TI. Cerca de 65% dos processos serão executados em “velocidade de cruzeiro”, cuidando para que o negócio funcione de forma estável e confiável. Os outros 35%, entretanto, serão operados em “velocidade de corrida”, onde a agilidade e inovação serão fundamentais para garantir a diferenciação das empresas e a manutenção e expansão de sua base de clientes. Neste modo de operação “acelerada” o uso da computação em nuvem será imprescindível para garantir a velocidade e flexibilidade necessárias para ficar a frente da concorrência.

Por outro lado, todos reconhecem que a tecnologia em torno da nuvem ainda vai evoluir bastante. O discurso da interoperabilidade é praticado pela maioria mas na prática isto não acontece de forma automática. Mais do que isto, muitos componentes precisam ser integrados para compor uma solução mais completa e eficiente, especialmente em nichos de mercado. Isto vai demandar um número maior de parcerias.

Numa conversa pós apresentação achei interessante a visão de alguns provedores de solução ali presentes, comentando que muitas startups com soluções para a nuvem estão crescendo a taxas enormes, superiores muitas vezes a 100% ao ano, e com equipes jovens que não valorizam ainda as parcerias com canais de vendas. Para estas startups o seu cliente final vai acessar o site e ele próprio vai contratar o SaaS sem precisar conversar com ninguém, confirmando o modelo operacional vigente que esta permitindo o crescimento vertiginoso da empresa. Com isto, nem sempre é fácil conseguir falar com alguém nestas startups, que nem tem alguém para conversar com o canal, dificultando qualquer parceria.

Outro ponto repetido inúmeras vezes é que uma das formas de um provedor de soluções se diferenciar é incorporar propriedade intelectual à solução que ele esta oferecendo. Ou seja, desenvolver algum componente de software que possa facilitar a integração de outros componentes ou que possa oferecer alguma funcionalidade específica. Melhor ainda se a funcionalidade servir para um nicho qualquer de mercado, permitindo que o provedor se especialize e se diferencie em relação à concorrência.

Toda empresa deve se preparar para ser uma empresa de tecnologia, sendo o caminho mais provável para isto o desenvolvimento de uma camada de software que possa ser acoplada a sua oferta atual. É o que estamos vendo acontecer com fabricantes de carro, de sensores, e outros bens de consumo. É o que precisa acontecer com provedores de soluções em TICs. As empresas de software, por sua vez, precisarão converter seus produtos para quem possam funcionar nesta nova infraestrutura.

Para a turma habituada a vender “lata”, as impressoras 3D podem ser uma esperança, já que em 2020, segundo Kurzweil, já será possível comprar equipamentos deste tipo a preços acessíveis e produzindo peças em materiais diversos, inclusive alguns tipos de tecido.

John Lemos Forman

John Lemos Forman

Diretor at J.Forman Consultoria
Mestre em Informática (ênfase em Engenharia de Software), Engenheiro de Computação e Tecnólogo em Processamento de Dados pela PUC-Rio, com pós-graduação em Gestão de Empresas pela COPPEAD/UFRJ. 30 anos de experiência na gestão de empresas e projetos inovadores de base tecnológica.
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